Manuel Coutinho Carmo Bucar Corte Real, SE, M.Ec.

Chefe Departamento de Ciência da Economia da FE da UNTL, Fevereiro-Setembro de 2000, Decano da FE da UNTL, Setembro de 2000 até Agosto de 2006, Inspector Geral do Estado, Agosto de 2006-Setembro de 2007, -Comissario Adjunto da CAC de Timor-Leste (2010 - 2018),
Docente Senior da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nacional de Timor Loro-Sa´e
(Mês de Junho de 2000 até presente, 2023)

O Mundo de Informações


Metodologia para o conhecimento da Economia

Fonte: IE-UNICAMP



Decisão de estudar Economia:
o que ela é?
Por que devo estudá-la?
Por que ela é hermética e controversa?
Como devo estudá-la?
 
Agentes econômicos racionais
O homem não é nem um átomo nem um rato de laboratório.
Ele possui uma racionalidade individual que permite a mudança
do comportamento coletivo.
 
Crítica ao monismo metodológico
O ambiente socioeconômico resulta das interações entre nossos distintos procedimentos ou decisões.
As condutas individuais constituem um ponto de partida como os átomos, pois, combinadas, delas haverá emergência de corpos sociais os mais diversos.
Doutrina do monismo metodológico:
“todas as ciências teóricas ou gerais devem usar o mesmo método, sejam ciências naturais ou ciências sociais” (Karl Popper).
 
Princípio de individualismo metodológico para as Ciências Sociais
“A tarefa da teoria social é construir e analisar cuidadosamente nossos modelos sociológicos em termos descritivos ou nominalistas; isso quer dizer, em termos de indivíduos, de suas atitudes, expectativas, relações, etc.” (Karl Popper)
Por trás do movimento dos átomos não há determinada “intenção”...
Ao contrário dos agentes econômicos racionais, os átomos não têm consciência, uma faculdade humana de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados, o conhecimento imediato da sua própria atividade psíquica.
Os homens têm conhecimento, noção, ideia da economia social.
 
Individualismo Metodológico versus Holismo Metodológico
Estabelece que as explanações sobre os fenômenos macroeconômicos somente devem ser
Consideradas adequadas se colocadas em termos de crenças, atitudes e decisões dos indivíduos.
Postula que os conjuntos sociais têm objetivos ou funções que não podem ser reduzidos a crenças, atitudes e ações dos indivíduos que os fazem.
Designa uma força vital responsável pela formação dos conjuntos.
 
Holismo versus Individualismo Metodológico
Do lado do holismo, o argumento é que quando as ações humanas forem delimitadas e impulsionadas por normas e formarem o campo de estudo da investigação social, a explanação na ciência social deverá ocorrer em termos das motivações e intenções de indivíduos, moldadas por regras e instituições.
Nesse caso, o tipo de conhecimento apropriado para a investigação social somente pode ser obtido aprendendo sobre essas regras e instituições – fatos irredutíveis da sociedade.
Do lado do individualismo metodológico, há a proposição segundo a qual os indivíduos criam todas as instituições sociais e, portanto, os fenômenos coletivos são simplesmente abstrações hipotéticas, derivadas das decisões de indivíduos reais.
No limite, a dedução é que todas as concepções da Sociologia, da Política e da Economia são redutíveis àquelas da Psicologia.
Entretanto, é falsa a sensação de que nossa personalidade individual possui um núcleo constante, com base no qual se pode generalizar, teoricamente.
 
Tarefa principal das Ciências Sociais teóricas
Adotaremos qual proposição? Talvez o mais sensato seja aceitar que a tarefa principal das ciências sociais teóricas é a de identificar as repercussões sociais involuntárias das ações humanas intencionais.
Essa doutrina das consequências não intencionais sugere que há proposições sobre conjuntos que são mais do que a soma de proposições acerca das partes constituintes – o sofisma da composição.
Por exemplo, em Economia, o mecanismo de mercado pode ser visto como a consequência social não planejada das ações individuais impulsionadas por motivos puramente egoístas em busca dos próprios interesses, e, em princípio, inconsistentes entre si.
Essa postura não implica nos restringirmos ao estudo dos subprodutos das ações individuais; devemos também focar as teorias que informam essas tomadas particulares de decisão.
Em termos de teoria econômica, não devemos nem excluir todas as proposições macroeconômicas que não podem ser reduzidas aos seus fundamentos microeconômicos, nem eliminar a análise das regras, normas e instituições que conformam o contexto macroeconômico, dentro do qual se insere a decisão microeconômica.
 
Microeconomia versus Macroeconomia
Microeconomia: ocupase da forma pela qual as unidades individuais que compõem a economia agem e reagem umas sobre as outras.
Evidencia as decisões particulares ex-ante.
Macroeconomia: focaliza o comportamento do sistema econômico como um todo.
Enfoca o resultado sistêmico ex-post da pluralidade de decisões particulares, interagindo
como componentes de um Sistema Complexo.
 
Apreciação ex-ante versus Apreciação ex-post
Apreciação ex-ante: concepção de o que ocorrerá em um segmento de tempo futuro.
Apreciação ex-post: análise de o que foi registrado, quando decorrido o intervalo de tempo.
Economia Normativa: o que deveria ser.
 
Economia Positiva: o que é.
Microeconomia e Macroeconomia
Metáfora usual: a microeconomia “estuda as árvores, não a floresta”.
A macroeconomia tem como objeto de estudo as relações entre os agregados estatísticos.
Tal ideia de repartição do conhecimento econômico entre microeconomia e macroeconomia distingue entre 1. os acontecimentos e as situações que se esperavam ocorrer, em um intervalo ainda futuro de tempo, e 2. os acontecimentos e as situações que de fato terminaram surgindo, no decorrer deste intervalo, isto é, depois que ele foi incorporado pela história.
No primeiro caso, têm-se expectativas; no segundo, a satisfação ou a frustração destas expectativas.
A microeconomia faz um exame “microscópio” da estrutura básica (“celular” ou “atomística”) da economia.
A macroeconomia possui uma abordagem “macroscópica” da constelação econômica, apreendendo-a através de seus agregados e aspectos globais.
 
Análise microeconômica versus análise macroeconômica
A análise microeconômica focaliza, por exemplo, as preferências e a restrição orçamentária do consumidor e as decisões do produtor (firma) sobre o que, quanto, como, com que margem de lucro, a que preço e para quem produzir.
Ela envolve Teoria do Consumidor, Teoria da Produção, Teoria da Firma, Teoria dos Preços e Teoria da Repartição.
A análise macroeconômica verifica os resultados das interações dessas decisões.
 
O que é Economia?
Há duas definições básicas da Economia.
1. A abordagem clássica da Economia Política dá ênfase às relações sociais que se estabelecem entre os homens, em suas atividades econômicas.
2. A abordagem neoclássica da Economia Pura enfatiza a capacidade humana de fazer escolhas, em face de múltiplos fins e de diversos meios para alcançá-los.
 
Partição da Economia
Em Economia, qualquer partição é uma divisão artificial da matéria, que pode ser uma fonte de erro na aproximação da “verdade econômica”.
Essa “verdade” estaria mais próxima através do exame do todo, ainda que, para fins didáticos, via sucessivas aproximações.
No livro Economia em 10 Lições, busquei romper a rígida linha divisória entre a microeconomia e a macroeconomia, contumaz em livros-texto.
 
Ciência Econômica versus Economia Política
O estudo de Economia deve ser a respeito de como realizar opções segundo critérios ou procedimentos científicos, na concepção da Ciência Econômica.
 
Os modos como as sociedades, em diversas etapas históricas, se organizaram (ou se coordenaram), para resolver os problemas da produção, da distribuição, do consumo, do investimento, do financiamento, etc., é o objeto de reflexão da linha de pensamento classificada como Economia Política.
Ciência Econômica: universal e atemporal, para generalização.
Economia Política: refere-se sempre a um tempo histórico definido, em determinada formação social; é definida no espaço e no tempo.
 
Por que devo estudar Economia?
1. Para poder participar, conscientemente, dos processos democráticos.
2. Para ter em conta a dimensão social da pluralidade dos atos individuais.
3. Para se tornar um cidadão completo, capaz de julgar as políticas públicas e de tomar as melhores decisões.
4. Para absorver a lógica básica do método de raciocínio a respeito da decisão econômica em condições de incerteza.
5. Para não ter de consultar os especialistas.
6. Para ter esse meio de comunicação interpessoal.
7. Para encontrar significado na vida econômica e não ficar à mercê dos seus acasos.
8. Para não ser enganado por economistas.
9. Para garantir o direito formal de exercer a profissão, diplomando-me como um economista profissional.
10. Para ter oportunidade de ganhar, em média entre 410.000 economistas, administradores, contadores, etc., R$ 75.000,00 por ano e possuir Bens e Direitos no valor de R$ 378.000,00.
11. Para, quando estiver desempregado, pelo menos saber explicar por que...
 
Importância do estudo de teorias
A teoria pura é pré-requisito da teoria aplicada e da arte da economia.
A aprendizagem nasce da repetição, do acúmulo de informações e experiências imediatas.
O saber com base no senso comum se surpreende com qualquer evento aleatório, contingente, eventual, incerto, que pode ou não suceder.
Há possibilidades que podem ser deduzidas pela razão lógica e não pela experiência.
O risco do empirismo é a suposição de semelhança ou correlação para a inferência causal.
 
Aprender a aprender
A crítica de que “o curso de Economia é muito teórico” é equivocada, pois o que nele se aprende é, na verdade, “aprender a aprender”.
Aprender a estudar o já conhecido pelos profissionais formados – conhecimento novo é atribuição da pesquisa e não do ensino – significa praticar diversos modos de raciocinar, nesta área de conhecimento.
Conhecer significa “ter noção”, ou seja, ter familiaridade com o já conhecido para, quando necessário, estudá-lo mais profundamente e/ou aplicá-lo.
 
Missão do professor
Ensinar significa “dar uma senha” de como conhecer, despertar a curiosidade intelectual e a consciência do estudante, para ele aprender a pensar por si só.
Essa é a missão do professor.
Não é transmitir o processo operacional de cada empresa, mesmo porque isso é impossível, devido à diversidade.
Cada empregado recebe em seu local de trabalho esse aprendizado e/ou treinamento – “learning on job” –, com sua especificidade.
 
Porque a Economia é hermética?
Porque o jargão é uma gíria profissional.
Usa vários termos tomados emprestados de outros ofícios, com significado distinto do original.
Abusa também de língua estrangeira.
Artigos “científicos” se transformam em puro exibicionismo de virtuose matemática.
 
Dificuldade de comunicação
Os economistas não têm tido êxito em transmitir ao público suas opiniões, respaldadas em seu saber específico.
De acordo com uma determinada visão, a Ciência Econômica é um arsenal de ferramentas teóricas que você tem de aprender a manusear antes de poder manifestar qualquer opinião sobre sua utilidade ou não.
É um tipo de teoria cuja técnica não é muito fácil de aprender, sendo, segundo essa ótica,
“inteiramente inacessível ao ‘cidadão comum’”.
 
Por que a Economia é controversa?
1. Pelo não encobrimento dos conflitos de interesses reais.
2. Devido à identificação político-partidária.
3. Pelo conservadorismo das ideias adquiridas.
4. Pela própria diferença entre as capacidades individuais de raciocínio e entre as competências técnicas.
5. Pelo desejo de não ferir os interesses do patrão (ou de quem paga).
6. Pela adaptação às plateias de ouvintes e/ou de (e)leitores.
7. Pelas reações diversas (algumas adversas) às mudanças econômicas.
 
Como devo estudar Economia?
No modelo hard science, o estudante ignora a história do pensamento econômico.
Deve familiarizar-se de imediato com o estágio atual da teoria.
No modelo soft science, o estudante deve, de maneira prioritária, dominar os autores clássicos dos passado.
Deve estudar toda a história do pensamento econômico.
 
Recomendação de estudo
O aprendizado da teoria econômica tem sido efetuado de acordo com esses dois modelos distintos.
Mas a recomendação é estudar, ao mesmo tempo, 1. a história do pensamento econômico e 2. a teoria econômica atual.
Em outras palavras, o estudante de Economia deve dominar tanto a Economia Política
quanto a Ciência Econômica.