1. Nota introdutória
Este artigo tem por objectivo estudar as empresas sediadas na região do Ave, no Norte de Portugal. Esta região vive basicamente da agricultura. Na segunda metade do século 20 ocorreu um desenvolvimento desta região devido ao estabelecimento de indústrias têxteis e de vestuário. De acordo com dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) 60% dos trabalhadores estão empregados na indústria. Sendo 80% na indústria têxtil, de vestuário e calçado.
Na década de 80 e 90, a região do Ave experimentou um processo de crise industrial, devido à forte competição dos países asiáticos, levando ao encerramento de várias empresas. No entanto este processo foi seguido por uma recuperação notável, podendo o desemprego ser compensado pelo desenvolvimento do comércio e serviços.
As características mais importantes da mudança de padrão da indústria da região do Ave foram um notável aumento do emprego na indústria têxtil e do número de empresas.
Este estudo assenta precisamente no processo de crise e recuperação do Ave. Pretende-se encontrar as variáveis que influenciam a entrada e sobrevivência das empresas num contexto de crise profunda e recuperação notável. Daí a escolha ter recaído sobre a região da Ave e o período dos anos 80 e 90 (e não o país como um todo ou um período menos turbulento).
Neste artigo, a autora pretende verificar se existe um sector ou indústria determinante para a entrada e sobrevivência das empresas. Estudos anteriores basearam-se no tamanho, idade, ou características que são mais específicas de uma empresa do que de um sector industrial. No entanto a autora acredita que pode ser interessante investigar que características industriais podem influenciar a entrada e sobrevivência de empresas.
O ponto 2 deste artigo apresenta uma breve pesquisa do ponto de vista teórico e empírico sobre as condições de entrada e de sobrevivência. Na secção 3 é apresentado o caso Ave. Na sessão 4 apresenta-se o estudo da influência das alterações da dimensão das empresas e na sessão 5 são apresentadas observações finais.
2. Entrada e Sobrevivência
Neste ponto é feito um enquadramento teórico e empírico à entrada e sobrevivência das empresas. Dado que se pretende apenas um resumo deste estudo avançamos para a explicação do caso Ave.
3. O Caso do Ave
3.1. Variáveis explicativas e Dados
Os dados utilizados neste estudo foram recolhidos da base de dados, para 1985 e 1997. Considerou-se como adequado este período para verificar indicadores de crises e recuperação. Provavelmente, anos como 1982 ou 1983 seriam melhores, porém, um grande número de empresas foram criadas em 1985 sendo os dados registados na DETEFP muito pobres, antes dessa data. O ano de 1997 era o último com dados disponíveis na referida base de dados, à data de elaboração deste estudo.
Uma empresa é considerada “nova” se aparece registada em 1997 e não aparece em 1985. Se ela aparecer nos registos quer em 1997 quer em 1985 é considerada uma empresa “sobrevivente”. A taxa de entrada (E) é definida com o rácio entre número de novas empresas em 1997, e o número total de empresas em 1985. No entanto poderiam ter sido consideradas outras definições, como a de Geroski (1995) mas menos adequadas para o presente estudo, de acordo com a autora. As taxas de sobrevivência e de saída são complementares, pelo que apenas uma delas é escolhida. Foi escolhida a taxa de sobrevivência (S), definida como a relação entre as empresas que existiam quer em 1985, quer em 1997 e o número total de empresas em 1985.
As variáveis explicativas devem ser adequadas à entrada e sobrevivência local e a um contexto de crise e recuperação. Com este propósito, a autora escolheu as seguintes variáveis explicativas:
- Para medir a taxa de lucro, parece mais adequado relacionar lucros com capital, em vez de price cost margins. Pelo que a variável PTA, que é a relação entre lucros e activos totais, contribui para a taxa de lucro. Estes dados foram obtidos através do Banco Portugal (1995), pela média para cada indústria. Espera-se uma correlação positiva entre PTA e a entrada e sobrevivência das empresas.
- Para medir o crescimento da indústria é importante considerar o comércio externo em cada indústria, e dados do comércio mundial. Devido a várias dificuldades explicadas no artigo, a autora considerou esta variável (FT) como o rácio entre a soma das exportações e importações e o seu emprego total. O dados das exportações e importações foram recolhidos pelo INE (1985) e INE (1997). O rácio utilizado contém o valor médio de 1985 e 1997 para importações, exportações e emprego.
- Minimum Efficient Scale (MES) foi excluída da equação final, por ser considerada inicialmente como não significativa para a sobrevivência. Mas foram usados os resulados de Lyons’ para o UK.
- Foi utilizada uma medida relativa da dimensão das empresas – o rácio de média da dimensão da indústria em 1985 para Lyons’ MES. Esta medida (RS) parece mais adequada para explicar a sobrevivência que o próprio MES.
- Não é fácil encontrar uma forma de medir os custos de transacção. A autora considerou uma medida relativa da dimensão da empresa (IS), num contexto local, através do rácio do emprego numa indústria sobre o emprego total no Ave. Este rácio foi médio para a média de 1997 e 1985.
- As dificuldades financeiras levam à saída de empresas, logo estão relacionadas com a baixa sobrevivência. No entanto não é obvio que estas dificuldades possam ser um indicador específico da indústria, mas considerou-se importante testá-la, uma vez que está relacionado com as dificuldades de mercado e outras. Foi utilizado o rácio dos activos externos, medidos pelos débitos de longo prazo e o total de activos (DTA). Estes dados foram obtidos junto do Banco de Portugal (1995). Como o PTA, este rácio é a mediana para cada indústria.
3.2. O comportamento das Variáveis Explicativas
A autora apresenta uma tabela (tabela 1) com o comportamento das variáveis escolhidas entre 1985 e 1997. Apresentam-se algumas das conclusões. Verifica-se que existiu uma média de entrada de 102% e uma taxa de sobrevivência de apenas 42%, pelo que uma grande parte das empresas que existem em 1997 é empresas novas. A evidência apresentada por RS mostra que as empresas do Ave são de dimensão bastante inferior às suas correspondentes no MES.
A correcção entre as variáveis explicativas é, na generalidade, baixa, e os valores de correlação da matriz são aceitáveis. Os coeficientes de correlação só excedem o valor de 0.4 pelo caso da DTA e MES (-0.46). No entanto estas duas variáveis não são utilizadas juntas na mesma regressão.
3.3. Equação e Resultados
Na sequência das escolhas feitas, quanto às variáveis explicativas, foram elaboradas duas equações apresentadas no artigo. Nas regressões foi utilizado o método OLS. Os resultados foram apresentados no quadro 2. Verificou-se que todas as variáveis explicativas são significantes pelo menos em 5%, o que torna os resultados satisfatórios e realistas. O valor do R2 também é aceitável.
As conclusões obtidas para a região do Ave, no período escolhido, vão de encontro a resultados de outros autores como Mata e Portugal (1994), no que respeita ao MES, e Geroski (1995) no que se refere ao efeito das taxas de lucro. Outras conclusões sobre a entrada de novas empresas foram referidas pela autora como: o coeficiente MES tem sinal negativo, como se esperava, o que significa que o MES é um obstáculo à entrada, dado que as empresas novas preferem indústrias com MES pequenos. Quanto ao PTA influencia positivamente a entrada o que significa que os lucros atraem a entrada de novas empresas. Também a dimensão da empresa, as importações e as exportações influenciam a decisão de entrada de novas empresas.
Os resultados de sobrevivência são apresentados na tabela 3, no entanto estes resultados não são tão bons dado que variáveis como o PTA e RS não são significantes, embora a regressão seja significante a um nível de 5% (F=2.79). FT é a única variável com um nível de significância bom. O seu coeficiente é muito menor que na regressão de entrada, daí que a influencia na sobrevivência é fraca. O sinal negativo indica uma menor sobrevivência nas indústrias abertas ao comércio externo. A concorrência externa, quer nas importações quer nas exportações, afecta negativamente a sobrevivência das empresas. Daí que neste tipo de industrias se verifica uma maior entrada mas uma menor sobrevivência, o que as torna mais atractivas mas com maiores probabilidades de encerrarem. Este é um resultado interessante, porque a importância de comércio exterior numa indústria tem uma variedade de efeitos, sendo alguns deles contraditórios.
A variável DTA tem um nível de significância de 10% e o seu coeficiente exibe o sinal esperado.
4. Alterações na dimensão das empresas
Neste ponto a autora refere as alterações de dimensão que as empresas da região do Ave têm sofrido. Nestes 12 anos, a média de trabalhadores por empresa, na indústria, diminuiu de 63 para 24, o que representa uma descida de 61%. Concluiu-se que a mudança de tamanho é claramente uma evidência num contexto de crise e no processo de recuperação.
Nesta sessão a autora tenta encontrar determinantes específicos para a alteração de dimensão no caso das empresas do Ave. Explica as considerações feitas seguindo Spilling (1998) e concluiu que de todas as variáveis utilizadas no ponto anterior, apenas a RS parece adequada para explicar as alterações de dimensão. Na regressão foi também utilizada a variável EC (Employment Change), de acordo com Spilling (1998). A regressão foi efectuada recorrendo ao método OLS e concluindo que ambas as variáveis são aceites: RS e EC.
5. Conclusões
O objectivo inicial deste estudo era verificar se existiam determinantes à entrada e sobrevivência de indústrias (e não apenas de empresas). O caso Ave mostra que os determinantes da industria são mais adequadas para explicar a entrada que a sobrevivência ou encerramento. Este caso apresenta algumas particularidades no que respeita à influência de variáveis que têm um diferentes comportamentos. Neste caso os lucros provenientes da indústria são claramente um factor de atracção de novas empresas nestes 12 anos analisados. Verificou-se que o MÊS é insignificante dado que as empresas preferem indústrias com MES baixos. Estes resultados opõem-se a alguns estudos anteriores elaborados para outras regiões e para outros períodos. A importância do comércio externo para cada indústria influencia positivamente a entrada mas negativamente a sobrevivência das empresas. Assim na região do Ave quanto maior é a importância do comercio externo, maior é a mobilidade das empresas. A sobrevivência é também condicionada pela situação financeira das empresas. É importante ter em conta que estes resultados foram testados para uma situação de crise profunda e de recuperação, num contexto de forte especialização e com um impulso forte orientado para a exportação.